sábado, 31 de maio de 2014

Forte Mehrangarh, Jodhpur


As Coisas Transitórias

(...)
Chegará um silêncio absoluto,
e, então, a música será perfeita.
A vida inclinar-se-á ao poente
para afogar-se em sombras doiradas.
O amor há-de ser chamado do seu jogo
para beber o sofrimento
e subir ao céu das lágrimas ...
Irmão, recorda isto, e alegra-te.
(...)

Rabindranath Tagore, in "O Coração da Primavera"

Todas as opiniões que há sobre a Natureza 
Nunca fizeram crescer uma erva ou nascer uma flor. 
Toda a sabedoria a respeito das cousas 
Nunca foi cousa em que pudesse pegar como nas cousas; 
Se a ciência quer ser verdadeira, 
Que ciência mais verdadeira que a das cousas sem ciência?

Fecho os olhos e a terra dura sobre que me deito
Tem uma realidade tão real que até as minhas costas a sentem.
Não preciso de raciocínio onde tenho espáduas.

Alberto Caeiro

quinta-feira, 29 de maio de 2014

A dissolução do sol, Murtosa



Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
Ao sol.

Minha alma imortal,
Cumpre a tua jura
Seja o sol estival
Ou a noite pura.

Pois tu me liberas
Das humanas quimeras,
Dos anseios vãos!
Tu voas então...

— Jamais a esperança.
Sem movimento.
Ciência e paciência,
O suplício é lento.

Que venha a manhã,
Com brasas de satã,
O dever
É vosso ardor.

Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
Ao sol.


Arthur Rimbaud

(imagem: luís veloso / musica: ANNA RF feat IMAMYAR HASANOV   Azerbaijani Folk Song ''Lachin'')

Porto de Paracas, Peru


NOSTALGIA
Perder uma fotografia
é perder
um momento
duas vezes.
Daniel Jonas

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Amsterdam


(...) os melancólicos não ficam assim por amor, mas se apaixonam para dar voz à sua melancolia.

Umberto Eco in "A Ilha do Dia Antes"

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Atravessando o Rio Yamuna, à chegada a Agra.


O Rio Yamuna (यमुना), estendendo-se por cerca de 1.370 km, é o maior afluente do Rio Ganges (गगां) no norte da Índia. Yamuna é considerado o mais sagrado dos rios na mitologia Hindu. A sua nascente é em Yamunotri, em Uttarakhand Himalaya, na cordilheira dos Himalaias. Corre através dos estados de Delhi, Haryana e Uttar Pradesh, antes de se juntar ao Ganges em Allahabad. Nas suas margens espraiam-se as cidades de Delhi, Mathura e Agra.

Hanói, Vietname


(...) os homens apenas envelhecem por fora, as ideias são imutáveis.

Carlos A. Carneiro in "Nunca é Tarde"

domingo, 25 de maio de 2014

Mercado de Saigão, Vietname


(...) as respostas são perguntas mortas.

Afonso Cruz in "Para onde vão os guarda-chuvas"

Teatro dos fantoches de água, Hanói, Vietname


(...) Não faz sentido nenhum que o mar não seja doce e potável. Fazer da maior parte do planeta uma coisa intragável é hediondo, e só Deus poderia lembrar-se disso. É a prova de que existe. Se fosse a ciência ou a razão o que fariam? Um mar estupidamente salgado ou uma coisa que se pudesse beber ao balcão de um bar?

Afonso Cruz in "Jesus Cristo bebia cerveja"

sábado, 24 de maio de 2014

Praga


(...)
Tenho conhecido gente um pouco estranha nestas festas. Existe de tudo. As ocupações mais bizarras. Eu sei, é claro, que isso depende sempre da perspectiva. Eu, por exemplo, vendo caixões. O meu pai vendia caixões. O meu avô vendia caixões. Cresci nisto. Acho até prosaico. Preferia, reconheço, dar aulas de levitação. Paciência. Consola-me saber que a morte é melhor negócio. Como o meu avô dizia - só uma coisa me aflige: a imortalidade.

José Eduardo Agualusa in "Manual prático de levitação"

Tampere, Suomi


O sol continuava sem brilhar,
a lua continuava sem luzir
nas moradas de Väinölä
nos prados de Kalevala;
caíu o gelo sobre as plantas,
a vida dos animais,
dos pássaros fez-se dura,
e triste a dos homens,
uma vez que o sol não aquecia,
a lua continuava sem brilhar.
O lúcio conhecia os fundos,
a águia o rumo da ave,
o vento o curso do navio,
mas os homens ignoravam
quando nascia o novo dia,
quando chegaria a escuridão
lá no cabo nebuloso,
lá na ilha da névoa.

Elias Lönnrot in "Kalevala"

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Peru, Atravessando o altiplano...


"Viajar! Perder países! 
Ser outro constantemente, 
Por a alma não ter raízes 
De viver de ver somente!
Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!

Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu."

Fernando Pessoa

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Dubai, Marina


"A minha única diferença em relação a um homem louco é que eu não sou louco!"

Salvador Dali

Ilha do Sal, Cabo Verde.


Porque mudo, queimo-me.
Porque as ondas me batem na boca.

Herberto Helder in "A Faca Não Corta o Fogo"

terça-feira, 20 de maio de 2014

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Varanasi, Índia


As fogueiras de Benares: 
Nas margens do Ganges, os 180kg de lenha usados na cremação dos corpos são acesos pelo fogo da fogueira original, ateada pelo Deus Shiva há 3.500 anos e mantida acesa desde então. Os corpos ardem durante 3 horas e as cinzas são entregues ao rio sagrado. Finalmente podem repousar, libertos do seu corpo, um "vestido coçado que já não prestava, uma pele velha que se abandona por outra nova."

Varanasi, 27 de Abril 2011

domingo, 18 de maio de 2014

As viagens começam em casa...


Gosta de musica que é a mesma coisa que ouvir geometria.

Afonso Cruz in "Jesus Cristo bebia cerveja"

"O acordar dos deuses".


Varanasi, o amanhecer ouvido num barco a remos no meio do ganges.

Sobre a cidade de Varanasi: 
(...) "aquilo que a distingue e que constitui a sua originalidade são os 4,5 km da margem do Ganges sobre os quais se debruçam, do alto de escadarias tétricas e grandiosas, dignas de Babilónia, os palácios e os templos mais importantes da cidade. Estes 4,5 km de edifícios desiguais, e no entanto acomunados e unificados pelo mesmo ar de antiguidade corrupta e enegrecida, magicamente suspensos sobre as escadarias à beira do Ganges amarelo e lustroso, que naquele ponto é muito estreito, pouco mais largo do que o Tibre em Roma, devem ser vistos de uma embarcação que avance lentamente contra a corrente, de manhã, quando nas margens pulula a multidão de peregrinos que se lavam no rio." (...)

Alberto Moravia in "Uma ideia da Índia"

Serra de Arada


As árvores e os livros

As árvores como os livros têm folhas 
e margens lisas ou recortadas, 
e capas (isto é copas) e capítulos 
de flores e letras de oiro nas lombadas.

E são histórias de reis, histórias de fadas,
as mais fantásticas aventuras,
que se podem ler nas suas páginas,
no pecíolo, no limbo, nas nervuras.

As florestas são imensas bibliotecas,
e até há florestas especializadas,
com faias, bétulas e um letreiro
a dizer: «Floresta das zonas temperadas».

É evidente que não podes plantar
no teu quarto, plátanos ou azinheiras.
Para começar a construir uma biblioteca,
basta um vaso de sardinheiras.

Jorge Sousa Braga


Serra de Arada, 29 de Outubro de 2011